Entendendo a anatomia do ouvido e a importância do cerúmen

O ouvido é dividido em três partes principais:

1. Ouvido externo: Inclui o pavilhão auricular (a “orelha” visível) e o canal auditivo externo, que termina no tímpano.

2. Ouvido médio: Contém três pequenos ossículos (martelo, bigorna e estribo) responsáveis por transmitir as vibrações sonoras ao ouvido interno.

3. Ouvido interno: Onde estão a cóclea (estrutura responsável pela audição) e o labirinto (responsável pelo equilíbrio).

A cera de ouvido, ou cerúmen, é produzida por glândulas na parte mais externa do canal auditivo e desempenha diversos papéis importantes:

• Proteção: Atua como barreira contra partículas de poeira, microrganismos e objetos estranhos que poderiam atingir o tímpano.

• Lubrificação: Mantém a pele do canal auditivo hidratada e saudável, evitando descamações e irritações.

• Limpeza natural: Possui um processo de renovação constante, migrando gradualmente para a entrada do canal auditivo, onde pode ser removida de forma simples, geralmente ao limpar a parte externa da orelha com uma toalha após o banho.

Quando inserimos objetos no canal auditivo, interrompemos esse processo natural de limpeza, empurrando a cera para áreas mais profundas e, muitas vezes, criando bloqueios que podem prejudicar a audição.

Por que não colocar nada menor que o cotovelo no ouvido?

A frase “nunca coloque nada menor que o seu cotovelo dentro do ouvido” pode soar engraçada, mas ilustra um princípio muito simples: qualquer objeto que caiba no canal auditivo oferece riscos. Entre os problemas mais frequentes, destacam-se:

1. Empurrar a cera para dentro
   Quando você tenta “limpar” o canal com cotonetes ou objetos pontiagudos, o efeito costuma ser o oposto do desejado: o cerúmen é empurrado para dentro, podendo formar uma barreira que reduz a audição e causa desconforto.

2. Risco de perfuração do tímpano
   A pele do canal auditivo é muito fina e delicada, e o tímpano fica logo à frente. Um movimento inesperado, uma queda ou mesmo o excesso de força podem romper a membrana timpânica, causando dor intensa, sangramento e até perda auditiva permanente.

3. Infecções graves
   Ao criar microfissuras ou feridas internas, você abre portas para bactérias e fungos. Isso pode resultar em inflamações e infecções como a otite externa, também conhecida como “ouvido de nadador”, caracterizada por dor, secreção e inchaço.

4. Zumbidos (tinnitus) e tonturas
   A manipulação inadequada pode afetar estruturas mais internas do ouvido, desencadeando zumbidos constantes e desequilíbrios que afetam a qualidade de vida.

Casos reais que ilustram o perigo

• Caso 1: Bloqueio de cera causado por cotonete
  Joana, 34 anos, tinha o hábito de usar cotonetes diariamente após o banho. Com o tempo, começou a sentir coceira intensa e perceber perda gradual de audição em um dos ouvidos. Ao buscar ajuda médica, descobriu ter um bloqueio completo de cerúmen. O médico precisou utilizar um método de sucção especializado para remover o acúmulo, procedimento que poderia ter sido evitado caso ela não tivesse empurrado a cera para dentro.

• Caso 2: Infecção grave devido a objeto pontiagudo
  Carlos, 28 anos, relatou coceira persistente no ouvido e decidiu “aliviar” o incômodo utilizando a ponta de uma tampa de caneta. O movimento causou uma lesão no canal auditivo, seguida de infecção severa, que demandou tratamento com antibióticos por várias semanas. Além das dores, Carlos ainda enfrentou a ameaça de perda auditiva temporária.

Mitos comuns sobre a limpeza do ouvido

1. “Preciso limpar a cera todos os dias com cotonete”
   Mito. A produção de cera é natural e seu excesso geralmente é expelido sem necessidade de intervenção. Limpar a parte externa com uma toalha macia após o banho é suficiente na maioria dos casos.

2. “A cera é suja e só serve para incomodar”
   Mito. O cerúmen protege o ouvido contra infecções e mantém o canal auditivo hidratado. Só é necessária remoção profissional em casos de produção excessiva ou bloqueio total.

3. “Cotonetes são próprios para limpeza interna do ouvido”
   Mito. Apesar de serem populares, cotonetes não são indicados para a parte interna do canal auditivo. Na embalagem de muitos fabricantes, há alertas explícitos de que o produto não deve ser inserido no canal.

4. “Velas para remoção de cera são seguras e eficazes”
   Mito. Velas de ouvido (ear candling) podem causar queimaduras e não têm eficácia comprovada para remover cera, podendo inclusive agravar a situação.

Maneiras seguras de cuidar dos ouvidos

1. Confie no processo natural
   Na maioria dos casos, o próprio corpo se encarrega de expulsar o excesso de cera. Geralmente, é suficiente limpar apenas a parte externa da orelha com uma toalha macia ou lenço após o banho.

2. Use sprays ou soluções auriculares
   Existem produtos específicos (em forma de gotas ou sprays) que ajudam a dissolver ou amolecer o cerúmen, facilitando a saída do excesso de cera. Entretanto, é fundamental consultar um médico antes de utilizar qualquer produto, especialmente em casos de dor, histórico de infecções ou perfuração timpânica.

3. Consulte um otorrinolaringologista
   Se você sente dores, coceiras intensas, percebe redução na audição ou suspeita de um acúmulo excessivo de cerúmen, procure um especialista. O otorrinolaringologista pode avaliar o canal auditivo e remover qualquer bloqueio de forma segura e indolor.

4. Evite objetos estranhos
   Mesmo que pareça uma “solução rápida”, nunca utilize cotonetes, grampos, palitos ou similares para coçar ou limpar os ouvidos. Esses objetos podem causar danos imediatos ao tímpano ou desenvolver problemas crônicos ao longo do tempo.

5. Fique atento a sinais de alerta
   Dores de ouvido, secreções, sensação de ouvido tampado, zumbidos contínuos ou perda auditiva são sintomas que indicam a necessidade de avaliação profissional.

Dicas extras para manter a saúde auditiva

• Proteja seus ouvidos contra ruídos intensos: Em locais com barulho excessivo (shows, construções, uso de fones em volume muito alto), use protetores auriculares ou abaixe o volume. A exposição crônica a ruídos pode causar danos irreversíveis às células auditivas.

• Seque bem os ouvidos após nadar ou tomar banho: A umidade excessiva favorece infecções. Seque delicadamente a parte externa com uma toalha.

• Mantenha uma alimentação equilibrada: Nutrientes como vitaminas A e E, além de minerais como magnésio e zinco, contribuem para a manutenção da saúde auditiva.

• Faça check-ups regulares: Além do exame de rotina, considere avaliações auditivas periódicas se você trabalha em ambientes ruidosos ou apresenta fatores de risco para perda de audição.

Como educar e prevenir desde cedo

• Conscientize as crianças: Crianças costumam introduzir objetos nos ouvidos por curiosidade. Ensine-as desde cedo sobre a fragilidade dessa região e supervisione sempre que possível.

• Oriente idosos e cuidadores: Pessoas da terceira idade podem ter diminuição de sensibilidade e tentar limpar os ouvidos com objetos inadequados. Explique os riscos e, se necessário, acompanhe-as ao médico para limpezas regulares.

• Divulgue a informação: Compartilhe este artigo com amigos e familiares, ressaltando a importância de procurar ajuda profissional em vez de recorrer a métodos caseiros. A prevenção é sempre o melhor caminho.

Conclusão

A recomendação de “nunca colocar nada menor que o cotovelo nos canais auditivos” não é mero exagero ou frase de efeito — é um conselho fundamental que evita danos potencialmente irreversíveis à audição. A cera de ouvido não é sujeira, mas sim um aliado natural do nosso corpo na proteção contra infecções e outros riscos externos.

Se você já tem o hábito de inserir cotonetes ou outros objetos nos ouvidos, repense essa prática imediatamente. Em caso de desconfortos, zumbidos, dores ou sensação de ouvido entupido, busque orientação médica especializada. Lembre-se de que seus ouvidos são valiosos não apenas para ouvir, mas também para manter o equilíbrio e a qualidade de vida.

Cuide bem deles e garanta que a sua saúde auditiva permaneça protegida hoje e no futuro. Afinal, ouvir e se comunicar com clareza é essencial para o bem-estar físico, mental e social — algo que não deve ser colocado em risco por hábitos que podem ser facilmente evitados.

Referências:
- https://www.mdsaude.com/otorrinolaringologia/cera-ouvido/

-https://www.institutoauditivo.com.br/riscos-do-cotonete/